Sistema de lançamento espacial, Space Launch System
O Space Launch System (SLS) é o foguete-portador descartável pesado derivado do ônibus espacial (space shuttle) americano projetado pela NASA. Segue o cancelamento do programa Constellation e substituiu o ônibus espacial aposentado. A Lei de Autorização da NASA de 2010 previu a transformação dos projetos dos foguetes Ares I e Ares V do programa Constellation em um único veículo de lançamento utilizável para tripulação e carga, semelhante ao Ares IV. O SLS pode ser o foguete mais poderoso do mundo, com 20% a mais de empuxo que o Saturn V usado durante o programa Apollo. O foguete será lançado do Centro Espacial Kennedy da NASA na Flórida, EUA, para sua primeira missão lunar Artemis I. O financiamento total necessário para o programa SLS é de aproximadamente US$ 22,6 bilhões.
O veículo de lançamento SLS deve ser atualizado ao longo do tempo com versões mais potentes. Sua versão inicial Bloco 1 deve elevar uma carga útil de 70 toneladas para a órbita terrestre baixa (LEO), que será aumentada com a estreia do Bloco 1B e do Estágio Superior de Exploração EUS. O Bloco 2 substituirá os boosters iniciais derivados do Shuttle por outros avançados e foi planejado para ter uma capacidade LEO de mais de 130 toneladas para atender aos requisitos do Congresso. Essas atualizações permitirão que o SLS transporte astronautas e cargas para vários destinos além da LEO: em uma trajetória circumlunar como parte da Missão de Exploração 1 com o Bloco 1, para um asteroides próximos à Terra com o Bloco 1B e para Marte com Bloco 2. O SLS lançará a nave Orion que poderá fazer viagens à Estação Espacial Internacional, se necessário. O SLS usará as operações terrestres e as instalações de lançamento no Kennedy Space Center, na Flórida. Durante a apresentação conjunta Senado-NASA em setembro de 2011, foi declarado que o programa tinha um custo de desenvolvimento projetado de US$ 18 bilhões até 2017, com US$ 10 bilhões para o foguete, US$ 6 bilhões para o Orion Multi-Purpose Crew Vehicle e US$ 2 bilhões para atualizações na plataforma de lançamento e outras instalações no Kennedy Space Center.
O SLS será o único foguete com capacidade para transportar a Orion e astronautas, bem como grandes cargas para a lua durante uma única missão. Seu design flexível e evolutivo permitirá que o foguete realize missões científicas robóticas na Lua, Marte, Saturno e Júpiter. O foguete faz parte do programa Artemis, que pretende levar astronautas à Lua até 2024 usando “tecnologias inovadoras” para explorar o espaço lunar mais profundo.
Desenvolvimento do Sistema de Lançamento Espacial
A NASA revelou os planos de desenvolvimento do SLS em 2011. A revisão preliminar do projeto (preliminary design review PDR) do sistema foi concluída em 2013. A NASA avaliou os motores RS-25 para o SLS entre 2015 e 2017. Os motores foram integrados com sucesso com a baia de propulsão no Michoud Assembly Facility (MAF) da NASA em novembro de 2019. O primeiro estágio de de combustível líquido foi revelado em dezembro de 2019, e foi transportado para o Stennis Space Center no Mississippi, EUA. A versão de teste do tanque de hidrogênio líquido passou por 37 ensaios em dezembro de 2019, simulando tensões de decolagem e voo usando pistões hidráulicos. O primeiro estágio de núcleo do foguete (‘core stage’) para a missão Artemis foi enviado para Stennis em janeiro de 2020.
Design e recursos do SLS
O adaptador de estágio do veículo de lançamento (launch vehicle stage adaptor LVSA) conectará o estágio principal do SLS ao estágio de propulsão criogênica provisório (interim cryogenic propulsion stage ICPS). O segmento LVSA também fornece proteção para os dispositivos elétricos instalados nos sistemas de propulsão durante o tempo de lançamento.

O primeiro voo de teste, Artemis I, usará a configuração Bloco 1 para lançar a espaçonave não tripulada a 60.000 km além da lua para testar o desempenho do sistema integrado. Ele também transportará cargas secundárias, incluindo 13 pequenos satélites, que serão implantados no espaço profundo. A missão Artemis II enviará astronautas à Lua e abrirá caminho para a missão Artemis III, que envolverá o pouso de astronautas na Lua em 2024.
O Barge Pegasus (barcaça de transporte) da NASA foi usada para o transporte do estágio principal para o Stennis Space Center e foi posteriormente transferida para Kennedy para a integração do SLS nos prédios de construção de montagem. O software de computador de aviônicos necessário para o SLS foi desenvolvido no Marshall Space Flight Center em Huntsville, Alabama.
Estágios do Sistema de Lançamento Espacial
O estágio principal do SLS tem um comprimento de 60,96 metros e diâmetro de 8,4m e pesa aproximadamente 85.275kg. Foi construído no Michoud Assembly Facility e tem capacidade para armazenar 2.441.250,33 litros de hidrogênio líquido e 891.033,64 litros de oxigênio líquido (LOX). O estágio central do foguete suportará o peso da carga útil, do estágio superior e do veículo da tripulação. Ele será equipado com quatro motores RS-25 e dois boosters de propelentes sólidos de cinco segmentos. O estágio principal do SLS também contará com computadores de voo, câmeras, baterias, sistemas e sensores de consumo de eletricidade e dados. A primeira configuração SLS, Bloco 1, tem a capacidade enviar 26 toneladas de carga útil para órbitas além da lua. Ao chegar ao espaço, o ICPS enviará a Orion à lua. As três primeiras missões Artemis serão realizadas usando um foguete Block 1 com um ICPS.
A segunda configuração do foguete é chamada de veículo da tripulação do Bloco 1B. Ele tem um estágio superior de exploração (EUS), mais poderoso, para realizar missões mais ambiciosas. O foguete tem capacidade para transportar até 37t de carga útil, incluindo o Orion e grandes cargas em um único lançamento. A configuração final do SLS, Bloco 2, gerará 5.397.749,2 kgf de empuxo e poderá transportar 45 toneladas de carga para a Lua, Marte e outros destinos do espaço profundo.
Detalhes dos motores
O estágio principal do SLS é alimentado por quatro motores RS-25 desenvolvendo um impulso de 232.239 kgf. O bloco 1 ICPS será alimentado por um motor RL 10-C1 com um impulso de 11.273,5 kgf, enquanto o estágio superior de exploração do bloco 1B do foguete é alimentado por quatro motores RL10. Os motores também terão os vasos de pressão de materiais compósitos e propulsores do sistema de controle de reação. O veículo de lançamento tem dois boosters sólidos derivados do ônibus espacial, que serão usados para os voos iniciais. Os boosters também incluem novos aviônicos, design de grão-propelente e isolamento do envelope propulsor.

Empreiteiros envolvidos
A NASA contratou a Boeing para a produção de dez estágios principais do SLS e também até oito estágios superiores de exploração para apoiar as missões Artemis em outubro de 2019. A Geocent acessorou a Boeing para a conclusão da revisão crítica do projeto SLS Block-1 (CDR). A Teledyne Brown Engineering construiu o LVSA. A Aerojet Rocketdyne forneceu quatro motores RS-25 para a NASA. A Northrop Grumman é a principal contratada para fornecer os boosters para o SLS.
Capacidade de “engine out” (falha de motor)
Garantir a conclusão da missão é fundamental, mesmo no caso de um acidente durante o voo. Um possível cenário é a perda de um motor em voo. Embora o SLS não fosse obrigado a mostrar uma capacidade de perda de um motor, o programa de segurança da NASA adotou uma abordagem de avaliação para ver quando o veículo de lançamento poderia completar a missão após uma falha de motor versus quando os objetivos exigiriam um modo “down-mode” para uma missão alternativa para garantir que pelo menos alguns objetivos de voo fossem concluídos ou, no mínimo, garantir o retorno seguro da nave. Muito cedo no programa, foi tomada a decisão de utilizar ao máximo o material desenvolvido para o ônibus espacial e para o malfadado programa Constellation.
Isso significava que o estágio “core” e seria semelhante ao Tanque Externo do Shuttle, os Solid Rocket Boosters (SRB) seriam derivados da variante dos SRBs de quatro segmentos de Shuttle para a de cinco segmentos do Constellation, e os motores do “core” seriam os motores principais do ônibus espacial (Space Shuttle Main Engine – SSME), os RS-25. Enquanto os RS-25 mostraram confiabilidade significativa, houve um voo, STS-51-F em 1985, onde um desses motores foi desligado devido a uma falha no sensor. Isso exigiu que o ônibus espacial realizasse um Abort to Orbit (ATO) e alcançou uma altitude orbital menor do que o planejado. Apesar dos vários lançamentos bem-sucedidos sem desligamentos do motor em voo, a NASA ainda se prepara para o pior e fez planos para corrigir desligamentos não planejados. A análise mostrou que a configuração do Bloco 1 pode se recuperar de um desligamento não planejado do motor em quase todas as fases de voo. No final do voo, o SLS avançaria para Main Engine CutOff (MECO) e continuaria em seu perfil de missão nominal. Dois outros alvos, um Alvo MECO Alternativo (Alternate MECO Target – AMT) Alto (“High”) para falhas de motor na parte intermediária do voo, e um alvo AMT Baixo (“Low”) para falhas muito cedo no voo completam a capacidade do motor. Para o Artemis I, o alvo AMT High foi derivado para garantir que Orion pudesse cumprir seu objetivo de teste de reentrada de alta velocidade para seu escudo térmico, inserindo o estágio ICPS e a Orion em uma órbita onde o ICPS poderia colocar a nave em um órbita terrestre altamente elíptica. O alvo Artemis I AMT Low foi derivado para ajudar a Orion a atingir todos os seus outros objetivos de teste de voo na órbita terrestre baixa. A alternância entre alvos é feita por meio de software de voo ou pelo Controle da Missão. Tanto o veículo quanto o Controle da Missão monitorarão a velocidade do foguete na subida para determinar qual AMT o veículo será capaz de alcançar. Os AMTs também são derivados para que a reentrada do “core”, mesmo em caso de falha do motor, tenha uma alta probabilidade de impactar a água em vez da terra.
ESPECIFICAÇÕES DO SISTEMA DE LANÇAMENTO ESPACIAL
A massa da carga útil para o SLS é de 95.000 kg, conforme declarado no comunicado de imprensa da Artemis I. A massa do estágio iCPS abastecido é de 32.700 kg; a massa da nave Orion com a coifa de cabeça e a torre de escape LAS é de 32.600 kg, totalizando 65.300 kg. No momento da separação da espaçonave Orion do estágio superior, sua velocidade será de cerca de 10,1 km / s com uma massa de 23.850 kg.

O principal função do foguete é “lançar a nave Orion e outras cargas para o espaço profundo”
Performance:
LEO (48 × 296 km, 28,5°): 70.000 kg (Bloco 1), 105.000 kg (Bloco 1B), 130.000 (Bloco 2)
Injeção translunar: 24.500 kg (Bloco 1), aproximadamente 45.000 kg (Bloco 1B), cerca de 60.000 (Bloco 2)
Custo: US$ 7 bilhões 2014-2018 (estimativa de 2014) a US$ 35 bilhões até 2025 (estimativa de 2011)
Número de estágios: 2 + dois foguetes auxiliares
Comprimento total: 98 a 111 metros (incluindo carga útil)
Diâmetro principal: 8,4 metros
Massa de lançamento: 2.600.000 kg a 2.950.000 kg
Impulso de lançamento: 39 MN (Bloco 1, 1B), 41 MN (Bloco 2)
Contratados: Boeing, United Launch Alliance, Orbital ATK, Aerojet Rocketdyne
BOOSTERS DERIVADOS (BLOCO 1 & 1B)
Motor: SRM de cinco segmentos
Comprimento: 53,9 metros, incluindo carenagem da cabeça
Diâmetro: 3,71 m
Massa total: cada 731.885 kg
Propulsor: PBAN sólido
Massa do propulsor: cada 631.495 kg
Impulso: cada 16.000 kN máximo
Impulso específico: 268 s vacuo
Tempo de queima: 126 s

BOOSTERS DE PROPELENTE SÓLIDO AVANÇADOS (BLOCO 2)
Motor: SRM de 4 segmentos
Massa total: cerca de 793.000 kg cada
Massa do propulsor: cada aproximadamente 709.000 kg
Impulso: cada 20.000 kN máximo
Impulso específico: aproximadamente 286 s no vácuo
Tempo de queima: 110 s
O estoque de boosters é limitado pelo número de carcaças remanescentes do programa Shuttle, uma vez que as equipes modificaram os exemplares originais para montar neles um segmento adicional. Há o suficiente para fazer oito vôos do SLS, mas substitutos serão necessário para outros vôos. Em 2 de março de 2019, o programa Booster Obsolescence and Life Extension foi anunciado para utilizar os novos propulsores construídos pela Northrop Grumman Innovation Systems para outros vôos. Estes propulsores seriam derivados dos SRBs de revestimento composto em desenvolvimento para o foguete OmegA, e estão projetados para aumentar a carga útil do Block 1B para injeção translunar em 3 a 4 toneladas, que ainda estará uma tonelada abaixo da capacidade de carga útil do Block 2.
ESTÁGIO DE NÚCLEO ‘CORE STAGE’ (BLOCO 1, 1B e 2)
Motor: 4 RS-25D/E
Comprimento: 64,6 m
Diâmetro: 8,4 m
Massa seca: 85,275 kg
Massa de desgaste: aproximadamente 112.000 kg
Oxidante: oxigênio líquido
Combustível: hidrogênio líquido
Massa propulsora: 979.452 kg (utilizável)
Impulso: 7.440 kN SL, 9.116 kN no vácuo
Tempo de queima: 476 s

ESTÁGIO DE PROPULSÃO CRIOGÊNICA PROVISÓRIO (BLOCO 1)
Motor: 1 RL10B-2
Comprimento: 13,7 m
Diâmetro: 5,0 m
Massa seca: 3.765 kg + cerca de 5.000 kg no interestágio
Massa de desgaste: 4.354 kg
Oxidante: oxigênio líquido
Combustível: hidrogênio líquido
Massa propulsora: 26,853 kg (utilizável)
Impulso: 110,1 kN no vácuo
Tempo de queima: 1125 s
ESTÁGIO SUPERIOR DE EXPLORAÇÃO ‘EUS’ (BLOCO 1B e 2)
Motor: 4 RL10-C
Comprimento: não deve exceder 18 metros
Diâmetro: 8,4 metros
Oxidante: oxigênio líquido
Combustível: hidrogênio líquido
Massa de propelente: até 129.000 kg
Impulso: 440 kN no vácuo
CARENAGEM DE CABEÇA
Diâmetro: 5,0 metros (Bloco 1, 1B), 8,4 m (Bloco 1B), 10,0 m (Bloco 2)
Comprimento: 19,1 metros (Bloco 1, 1B), 31,1 m (Bloco 2)
Massa: cerca de 4 a 12 toneladas
RS-25D
Aplicação: Estágio principal SLS, até que o suprimento se esgote
Massa seca: 3.525 kg
Ciclo do motor: combustão estagiada
Oxidante: oxigênio líquido, bombeado a 439 kg/s
Combustível: hidrogênio líquido, entregue a 73 kg/s
Proporção da mistura: 5,85 a 6,10 ± 1%
Impulso: 2.274 kN no vácuo na potência máxima, podendo ser regulado de 65 a 109%
Impulso específico: 452,3 s no vácuo
RS-25E
Aplicação: estágio principal “core stage” SLS
Massa seca: não excede 3.700 kg
Ciclo do motor: combustão estagiada
Oxidante: oxigênio líquido, bombeado a 445 kg/s
Combustível: hidrogênio líquido, entregue a 74 kg/s
Proporção da mistura: 5,85 a 6,10 ± 1%
Impulso: 2.294 kN no vácuo no máximo e pode ser regulado de 65 a 111%
Impulso específico: 450,8 s no vácuo
RL10B-2
Aplicação: Estágio de propulsão criogênica interino ICPS
Massa seca: 301 kg
Ciclo do motor: expansor
Oxidante: oxigênio líquido, bombeado a 20,6 kg/s
Combustível: hidrogênio líquido, entregue a 3,5 kg/s
Proporção de mistura: 5,88
Impulso: 110,1 kN no vácuo
Impulso específico: 462 s no vácuo

As críticas a um projeto controverso
O SLS tem sido criticado com base no custo do programa, falta de envolvimento comercial e a natureza não competitiva de um veículo de financiamento público para usar componentes do space shuttle. Em 2009, a comissão Augustine propôs um lançador comercial de 75 toneladas de capacidade com custos operacionais menores, e observou que um foguete de 40 a 60 t era o mínimo necessário para suportar uma exploração lunar.
Em 2011-2012, a Space Access Society, a Space Frontier Foundation e a The Planetetary Society pediram o seu cancelamento, argumentando que o SLS consumiria os fundos para outros projetos a partir do orçamento da agência. A representante (deputada) Dana Rohrabacher e outros propuseram o desenvolvimento de um ‘depósito orbital de propelentes’ e a aceleração do programa de Desenvolvimento da Tripulação Comercial. Um estudo da NASA que não foi divulgado publicamente e outro do Instituto de Tecnologia da Geórgia mostrou que esta opção era possivelmente mais barata. Em 2012, a United Launch Alliance também sugeriu o uso de foguetes existentes com montagem em órbita de depósitos de propelente, conforme necessário. A falta de concorrência no projeto do SLS foi destacada. No verão de 2019, um ex-funcionário da ULA alegou que a Boeing, a principal contratada para o SLS, via a tecnologia de reabastecimento orbital como uma ameaça ao SLS e bloqueou mais investimentos nela.
Em 2011, o fundador da Mars Society/Mars Direct, Robert Zubrin, sugeriu que um veículo de transporte pesado poderia ser desenvolvido por US$ 5 bilhões em pedidos de proposta de preço fixo.
Em 2010, o CEO da SpaceX, Elon Musk, afirmou que sua empresa poderia construir um foguete na faixa de 140 a 150 toneladas de carga útil por US$ 2,5 bilhões, ou US$ 300 milhões (em dólares de 2010) por lançamento, sem incluir uma potencial atualização de estágio superior. No início dos anos 2010, a SpaceX iniciou o desenvolvimento do SuperHeavy/Starship, um sistema de lançamento totalmente reutilizável e superpesado. A reusabilidade é alegada para permitir um foguete superpesado de menor. Se o preço por lançamento e a capacidade de carga útil da nave espacial estiverem próximos das capacidades reivindicadas de Musk, o foguete será substancialmente mais barato do que o SLS.
Em 2011, o Deputado Tom McClintock e outros grupos conclamaram o Escritório de Responsabilidade Governamental (Government Accountability Office – GAO) a investigar possíveis violações da Lei de Concorrência em Contratos (CICA), argumentando que os mandatos do Congresso forçando a NASA a usar componentes do space shuttle para o SLS eram de fato não competitivos, com requisitos de fonte única assegurando contratos aos fornecedores dos space shuttles existentes. Os oponentes do foguete usaram zombeteiramente o nome “sistema de lançamento do Senado” (Senate Launch System). A Força Tarefa Espacial Competitiva, em setembro de 2011, disse que o novo lançador governamental violava diretamente a carta da agência, a Lei Espacial e os requisitos da Lei Espacial Comercial de 1998 para que a NASA buscasse “o maior envolvimento possível de fornecedores comerciais” e “… encorajasse, na medida do possível, o maior uso comercial possível do espaço”.
Em 2013, Chris Kraft, o líder de controle da missão da era Apollo, também expressou suas críticas ao sistema. Lori Garver, ex-administradora adjunta da NASA, pediu o cancelamento do foguete ao lado do Rover Mars 2020. Phil Plait expressou suas críticas ao SLS à luz das contínuas trocas orçamentárias entre o desenvolvimento da tripulação comercial e os orçamentos do SLS, referindo-se também às críticas anteriores feitas por Garver.
Em 2019, o Government Accountability Office constatou que a agência havia concedido à Boeing mais de US$ 200 milhões por serviços com classificações de “boa” a “excelente”, apesar de custos excedentes e atrasos. A partir de 2020, esperava-se um lançamento inaugural do SLS em 2021.
Em 1 de maio de 2020, a NASA concedeu uma extensão de contrato de US$ 1,79 bilhões para a fabricação de 18 motores RS-25 adicionais. Em todo o contrato RS-25 o preço de cada motor era de até US$146 milhões, e que o preço total dos quatro utilizados em cada lançamento seria superior a US$580 milhões. Eles comentaram criticamente que para o custo de apenas um RS-25, seis motores RD-180 mais potentes poderiam ser adquiridos, ou quase todo um lançamento de um foguete Falcon Heavy da SpaceX com dois terços da capacidade de carga do SLS.
O ex-administrador da agência Charlie Bolden, que supervisionou o projeto inicial e o desenvolvimento do SLS, também expressou suas críticas ao programa em uma entrevista em setembro de 2020. Bolden afirmou que o “SLS irá embora porque em algum momento as entidades comerciais irão se recuperar”. Bolden afirmou ainda que “as entidades comerciais vão realmente construir um foguete pesado como o SLS que poderá voar por um preço muito mais barato do que a NASA pode fazer”.
Os custos do projeto
O custo para desenvolver e operar o SLS é tão alto que põe em perigo todo o programa de voos espaciais profundos, disse o inspetor-geral Paul Martin, que atua como o fiscal federal da agência espacial na audiência do Subcomitê de Espaço e Aeronáutica da Câmara em 1º de março. “À medida que a NASA avança, deve acelerar esses esforços para tornar os programas Artemis mais acessíveis”, disse Martin. “Caso contrário, confiar em um sistema de foguetes de uso único tão caro, em nosso julgamento, inibirá, se não inviabilizar, a capacidade de sustentar seus objetivos de exploração humana de longo prazo para a Lua e Marte”. O inspetor-geral Martin estimou que as quatro primeiras missões Artemis custarão cerca de US$ 4,1 bilhões cada.

Embora a NASA ainda não tenha detalhado seu plano de gastos para todo o ciclo de vida do programa, o órgão de vigilância estimou que as quatro missões iniciais custarão cerca de US$ 4,1 bilhões cada, sendo a primeira o teste não tripulado de agosto de 2022. Em perspectiva, isso é cerca de um quinto de todo o orçamento da NASA. Aproximadamente metade da despesa é o novo sistema de foguetes. Até 2025, a agência terá gasto cerca de US$ 93 bilhões na Artemis, disse Martin.
Esses são números preocupantes, já que a indústria espacial comercial mostra que provavelmente poderia fazer um trabalho mais barato. O sistema nave-foguete Starship da SpaceX, embora ainda seja um protótipo, foi projetado para ser reutilizável, transportará cargas pesadas e tem potencial para ser lançado com mais frequência do que o SLS de uso único. O foguete Vulcan Centaur da United Launch Alliance em desenvolvimento também pode oferecer uma alternativa com um resultado mais barato. O custo por lançamento parece alto, disse Peter Beck, CEO da Rocket Lab, em uma: entrevista “Sei o que eu poderia fazer com US$ 4,1 bilhões, e seria muito”.
Essa conversa franca do inspetor geral da NASA pode levar alguém a pensar que o SLS pode prejudicar o programa de exploração espacial humana da agência se o foguete não for aprovado em voo. No entanto, apesar de seus problemas, o foguete não precisa ir a lugar nenhum, dizem os especialistas. Porque o SLS é um “elefante”, um “animal político”. “Pelo menos nos próximos 10 anos, o programa SLS é politicamente muito, muito seguro, sem algum tipo de falha catastrófica”, disse Casey Dreier, consultor sênior de política espacial da não partidária Planetary Society, em uma entrevista. Fundamentalmente, a eficiência de custos nunca foi a prioridade. Quando o Congresso adotou a Lei de Autorização da NASA de 2010, orientou a agência espacial a construir o foguete.
O SLS é literalmente fundado no legado do ônibus espacial, que operou entre 1981 e 2011. A NASA atualizou os componentes do shuttle para o novo foguete, usando uma versão maior do sistema e substitui o orbitador alado por uma carga útil ou cápsula de tripulação no topo. O estágio principal do foguete é um tanque de combustível alongado, alimentado por quatro motores RS-25, ou SSME, principais do ônibus espacial. Em vez de reutilizar esses motores, a NASA os descartará no oceano durante as missões Artemis.
Os líderes da Câmara e do Senado, querendo apoiar seus constituintes da indústria espacial, exigiram legalmente que a NASA trabalhasse com todos os mesmos contratados usados para o ônibus espacial. Em 2010, durante a Grande Recessão, esses legisladores buscaram preservar milhares de empregos em seus distritos. Cerca de 1.100 empresas e funcionários em todos os centros da NASA estavam agora envolvidos no projeto do megafoguete.
O projeto de lei de 2010 até dizia à NASA para usar os antigos “contratos de custo”, acordos que pagam ao contratado por todas as suas despesas e, em seguida, solicitam mais alguns trabalhos para permitir lucro (em oposição aos “contratos de custo fixo”, em que o orçamento total é limitado). Este modelo não cria um incentivo para que o empreiteiro termine seu trabalho dentro de um prazo e orçamento definidos. Apesar do fraco desempenho da Boeing, por exemplo, a NASA deu à empresa 86% de todas as taxas de premiação disponíveis para o desenvolvimento do estágio “core stage” do SLS, disse Martin, “apesar de estar bilhões acima do orçamento e atrasado em anos”.
Entre o governo e a iniciativa privada, prós e contras
“A NASA foi orientada sobre o que construir e sobre o tipo de peças a serem usadas”, disse Dreier. “Eles não podiam simplesmente começar [do zero] de novo.” Essa é uma diferença fundamental entre o SLS e o Starship da SpaceX, que não está preso a tecnologias de décadas ou contratos ineficientes. O foguete de carga pesada de Elon Musk é reutilizável e projetado para ser reabastecido em voo, permitindo transportar mais pessoas e cargas, disse Loizos Heracleous, professor de estratégia e organização da Warwick Business School. Ele co-escreveu um livro, Above and Beyond: Exploring the Business of Space.
A SpaceX provou que os Estados Unidos têm outras opções de transporte, independentemente dos comentários do ex-chefe da agência espacial russa, Dmitry Rogozin. A Rússia decidiu parar de fornecer motores de foguete para a América após as sanções dos EUA sobre a invasão da Ucrânia.
“Em uma situação como essa, não podemos fornecer aos Estados Unidos os melhores motores de foguetes do mundo. Deixe-os voar em outra coisa, suas vassouras, não sei o quê”, disse Rogozin. Musk reagiu no Twitter, rotulando o extremamente bem-sucedido foguete Falcon 9 da SpaceX como uma “vassoura americana”.
A SpaceX não divulga publicamente suas finanças, mas em um evento em suas instalações no Texas no ano passado, Musk anunciou que acreditava que a Starship poderia realizar missões orbitais por menos de US$ 10 milhões por lançamento em menos de dois ou três anos. (Embora Musk tenha um histórico de metas tecnológicas não cumpridas.) Se for verdade, isso seria várias ordens de magnitude mais baratas que o SLS. Seria um caso clássico de viés de compromisso para os Estados Unidos manter suas armas por causa do tempo e dinheiro já investidos no SLS. “Isso significa que o bom dinheiro está sendo jogado atrás da opção ruim, em vez de reduzir as perdas e optar pela melhor opção”, disse um especialista espacial independente em uma entrevista.
Quando os legisladores determinaram a existência do SLS em 2011, a indústria espacial comercial não tinha uma espaçonave ou foguete para enviar astronautas a qualquer lugar. E há preocupações razoáveis em permitir que uma empresa privada lide com o sistema de lançamento, disse Casey Dreier. Quando Musk escreveu para sua equipe que uma crise com a produção do motor Raptor na Starship ameaçava levar a empresa à falência, os céticos da privatização da exploração espacial apontaram para ela como um exemplo de por que os Estados Unidos precisam ter seu próprio foguete. “Você está dizendo que esta empresa privada que está sob o domínio de um indivíduo muito poderoso e influente cuja visão impulsiona a empresa, mas se algo acontecer com ele ou com essa empresa, os EUA não têm uma maneira garantida de levar astronautas à Lua? “, afirma Dreier. “Você está colocando toda um meta nacional nos caprichos de uma empresa.”
As últimas três missões Apollo na década de 1970 – 15, 16 e 17 – custaram cerca de US$ 3,8 bilhões cada quando ajustadas pela inflação, disse Dreier. Isso faz com que as missões Artemis pareçam significativamente superfaturadas. Lançamentos feitos com mais frequência podem reduzir o custo, mas a NASA planeja voar apenas uma vez por ano.
Dado que o custo de operação de toda a Estação Espacial Internacional é de cerca de US$ 4 bilhões por ano, não é de surpreender que o inspetor geral tenha considerado o custo do SLS insustentável, disse Matthew Weinzierl, professor da Harvard Business School que pesquisa economia espacial. “Claro”, ele escreveu em um e-mail, “o Congresso poderia facilmente torná-lo ‘sustentável’ se aumentasse sua alocação para pesquisa espacial e se sentisse que Artemis valia o investimento”.
Neste ponto, não há razão para acreditar que os legisladores perderam a vontade política para o empreendimento. Repetidamente, o Congresso deu mais dinheiro ao programa do que a Casa Branca solicitou. Na audiência do Artemis, o congressista Brian Babin, um republicano que representa Houston, deixou claras suas prioridades.
“Onde a NASA planeja executar o controle de missão”, ele perguntou?
“Houston.” Foi a resposta do representante da NASA.
“OK, ótimo. Muito obrigado”, disse ele. “Isso é uma boa notícia.”



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