Fruto de uma colaboração inédita pela sua abrangência, a Estação Espacial Internacional (International Space Station – ISS) abriga há duas décadas e meia astronautas de vários países. Os antigos rivais da corrida espacial, Estados Unidos e Rússia, aliaram-se a países da Europa Ocidental e ao Japão para criar a maior estrutura já montada na órbita terrestre. A gestação desta ideia não foi fácil nem rápida. As raízes da ISS remontam aos primeiros projetos de americanos e russos para construir estações espaciais de longa duração. Ambos lançaram suas estações próprias (Skylab – dos EUA, Salyut e Mir, da União Soviética/Rússia), nos anos 70/80/90 do século XX, ganhando experiência na permanência de seres humanos em órbita terrestre.

De início, cada país tinha seu projeto para uma estação orbital; o tempo e a política se encarregaram de aproximar os dois lados do oceano para que juntos montassem a enorme estrutura no espaço, que dividiriam pelos anos seguintes, a partir de 1998. De um lado, os americanos já projetavam estações espaciais logo após o fim do Projeto Apollo (daí surgiu o Skylab, realizado entre 1973-74), e quando o seu space shuttle ficou disponível, a ideia de uma estação americana parecia que iria se concretizar. Mas o congresso americano não pensava desta maneira, e a NASA, agência espacial americana, não recebeu os fundos necessários para usar seus shuttles para montar sua estação. Este projeto inicial recebeu o nome de Freedom (Liberdade), e teve várias versões ao longo dos anos 80 e 90.
Em 1984, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, anunciou o início dos trabalhos para a criação de uma estação orbital americana. Em 1988, a estação projetada recebeu o nome de Freedom. Naquela época, era um projeto conjunto dos EUA, ESA (Agência Espacial Européia), Canadá e Japão. Uma estação de grande porte foi planejada, cujos módulos seriam entregues em órbita pelo Space Shuttle. No início dos anos 90 o custo do desenvolvimento do projeto era muito alto e apenas a cooperação internacional permitiria a criação de uma estação desse tipo.
Os EUA limitavam-se a fazer voos de curta duração com seus ônibus espaciais, empreendendo importantes missões cientificas e comerciais entre 1981 e 2003. Na Rússia, já na época da URSS, os projetos de grandes estações orbitais proliferavam. Nos anos 1970 os cientistas soviéticos planejavam uma grande estação espacial multifuncional MKBS, que abrigaria vários cosmonautas. Outros planos se seguiram nos anos 80, especialmente a proposta Mir 2. A URSS porém, iria colapsar em 1991, e com ela os sonhos de uma estação russa no espaço. A vantagem é que a URSS/ Rússia manteve um programa ativo de estações espaciais entre 1971 e 1999, com as Salyut e a Mir abrigando cosmonautas por meses e anos seguidamente.
Com o passar do tempo EUA e Rússia foram se aproximando, conscientes de que não poderiam realizar tal tarefa sozinhos. Europeus e japoneses embaracaram de bom grado, puxados pela iniciativa americana, e em meados dos anos 90 os desenhos para uma estação conjunta, começaram a tomar forma em metal. Em 17 de junho de 1992, a Rússia e os Estados Unidos firmaram um acordo de cooperação na exploração espacial. De acordo com ele, a Agência Espacial Russa (RKA) e a NASA desenvolveriam o programa Mir-Shuttle. Este programa incluiu vôos do ônibus espacial americano para a estação Mir, a inclusão de astronautas russos nas tripulações de ônibus espaciais americanos e astronautas americanos nas tripulações das naves Soyuz e da estação.
A primeira fase do programa de cooperação foram esses voos à Mir, para depois começar a montagem da estação espacial entre os dois países. Em março de 1993, o diretor-geral da RKA, Yuri Koptev, e o designer-geral da empresa construtora de naves NPO Energia, Yuri Semyonov, propuseram ao chefe da NASA, Daniel Goldin, a criação de uma Estação Espacial Internacional ou ISS. No mesmo ano, nos Estados Unidos, muitos políticos eram contra a construção de uma estação orbital. Em junho de 1993, o Congresso dos EUA chegou a discutir uma proposta para abandonar a sua criação. Esta proposta não foi aceita com uma preponderância de apenas um voto: 215 votos para rejeição, 216 votos para a construção. Em 2 de setembro de 1993, o vice-presidente americano Al Gore e o presidente do Conselho de Ministros da Federação Russa, Viktor Chernomyrdin, anunciaram finalmente um novo projeto para uma estação espacial verdadeiramente internacional . A partir desse momento, a Estação Espacial Internacional se tornou o nome oficial da estação, embora o nome não-oficial Alpha também tenha sido usado em paralelo. Enquanto isso americanos e russos começaram com os voos Shuttle-Mir, e foi ensaiada a colaboração de fato entre as duas nações. O que foi aprendido nos anos 90, com astronautas americanos fazendo parte de tripulações russas em voos de longa duração, foi convertido em experiência para a construção da ISS a partir de 1998. Os russos, porém, titubearam o quanto puderam em abandonar a Mir em prol de mergulhar de fato na ISS, e quando o primeiro módulo da ISS foi lançado, em 1998, a antiga estação russa ainda estava em plena atividade. A partir de 2001, com a Mir reentrando na atmosfera para encerrar 15 anos de operações memoráveis, a Rússia passou a se concentrar apenas na ISS, para alegria dos parceiros ocidentais. A ISS é até agora o maior projeto técnico internacional do século XXI.
COMPOSIÇÃO DA ISS
A estação em si, a exemplo da Freedom e da Mir-2, teve várias versões durante sua fase inicial de projeto, até ser definida. A ISS tem dois segmentos, o americano – USOS – e o russo (RS ou ROS) e a configuração final adotada é a seguinte:
ZARYA
Zarya , ou Aurora – o Bloco de Carga Funcional FGB, foi o primeiro elemento colocado em órbita. É equipado com motores para corrigir a órbita da estação e grandes painéis solares. A vida útil do módulo foi estendida várias vezes e, em 2019, ele foi certificado até 2028, levando em consideração as substituições planejadas de equipamentos. A contribuição financeira americana para a criação do Zarya foi de cerca de US $ 250 milhões, enquanto a russa, mais de US $ 150 milhões. Na verdade, o Zarya é um módulo de propriedade americana.
ZVEZDA
Zveda, ou Estrela – um módulo de serviço que abriga os sistemas de controle de vôo, sistemas de suporte de vida, energia e centro de informação, bem como duas cabines para os cosmonautas.
PIRS
Pirs ou DC-1 Pier – é um compartimento de engate acoplado à porta de acoplagem inferior (nadir) do Zvezda, tendo como função receber naves de carga; Também tem duas portas de saída extraveicular.
POISK
MIM-1 ou Poisk (Busca), um compartimento com duas portas de atividade extraveicular e suporte para equipamentos de pesquisa. É idêntico ao Pirs DC-1. O Poisk foi acoplado à porta de engate superior (zenite) do Zvezda.
RASSVET
MIM-2 ou Rassvet (Amanhecer), para o armazenamento doequipamento necessário para realizar experimentos científicos. Rassvet foianexado à porta inferior do Zarya.
PMAs
Adaptador pressurizado de acoplagem (PMA) – são adaptadores de acoplamento projetados para interconectar módulos da estação e permitir acoplamentos de space shuttles. São três PMAs, que foram sendo reposicionados conforme a construção do complexo espacial foi avançando.
TRANQUILITY
Tranquility (Tranquilidade) – é um módulo que desempenha funções de suporte de vida. Ele contém sistemas para processamento de água, regeneração do ar, disposição de resíduos , etc, para o segmento americano. Foi acoplado ao Unity.
UNITY
Unity, ou Unidade – o primeiro dos três módulos de interligação para fazer o entroncamento com a câmara de atividade extraveicular Quest, o Tranquility, o módulo cientifico Destiny e a estrutura Z1.
ITS TRUSS
Estrutura externa ou ‘Truss’ – uma estrutura de treliça nãopressurizada feita em vários segmentos montados pelos astronautas, sobre os quais estão instalados painéis solares , painéis de radiadores e manipuladores remotos. É a trave, a espinha dorsal da estação, provendo suporte para equipamento externo, baterias, sistemas de controle de temperatura, antenas etc.
ESPs
Plataformas de armazenamento externo (ESP): plataformas externas não pressurizadas projetadas exclusivamente para armazenamento de itens e equipamentos.
ELCs
Paletes de transporte e armazenamento (ELC) – quatro plataformas montadas externamente, projetadas para acomodar o equipamento necessário para a realização de experimentos científicos no vácuo.
CANADARM2
Canadarm2 , ou Mobile Servicing System – braço-robô operado por um astronauta de dentro da estação, servindo como a principal ferramenta para descarregar naves de transporte e mover equipamentos externos. Foi a principal contribuição do Canadá à estação.
DEXTRE
Dextre – sistema também canadense com braços robóticos que serve para mover o equipamento fora da estação.
QUEST
O Quest (Busca) é um módulo despressurizavel projetado para fazer com que astronautas e cosmonautas saiam da estação para trabalhar fora dela.
DESTINY
Destiny, ou Destino – é o módulo-laboratório americano, onde se realizam a maioria das experiências sob resposabilidade da NASA. Foi acoplado à frente do Unity e na sua frente foi instalado o Harmony.
HARMONY
Harmony, ou Harmonia, é um módulo de conexão que funciona como um núcleo de acoplamento e um centro de distribuição de energia elétrica para três laboratórios científicos e naves de transporte acoplados a ele através do PMA-2. Contém sistemas adicionais de suporte à vida; O Harmony foi atracado na frente do Destiny.
COLUMBUS
Columbus – o módulo europeu, que tem de equipamentos científicos da agência espacial européia. Foi acoplado à porta de acoplagem direita do módulo Harmony.
KIBO
O Kibo – laboratório japonês, composto por três compartimentos e um manipulador remoto principal. Projetado para a realização de experimentos físicos, biológicos, biotecnológicos em condições de ambiente pressurizado e no vácuo. Além disso, graças ao seu design especial, permite experimentos não planejados. Foi anexado à esquerda
do módulo Harmony;
CUPOLA
A Cupola, ou cúpula , projetada e fabricada pela Agência EspacialEuropeia, é um compartimento com janelas panorâmicas. Suas setevigias são usadas para experimentos, observação do espaço e da Terra, para observar a acoplagem de naves espaciais, e também como centro decontrole do Canadarm. Também é o lugar para relaxar olhando a vista excepcional da Terra. Foi acoplado na porta inferior (nadir) do Tranquility.
MPLM
Multi-Purpose Logistics Module (MPLM) eram módulos pressurizados usados em missões do shuttle para transferir carga de e para a estação. O MPLM era trazido no ônibus espacial para retornar à Terra. Três módulos foram construídos pela Agência Espacial Italiana (ASI): Leonardo , Raffaello e Donatello
PMM
Módulo Multifuncional Permanente ou PMM – é um compartimento para armazenamento. O MPLM é o módulo Leonardo que foi convertido desde março de 2011 para ficar permanentemente no espaço, , acoplado à porta direita do módulo Tranquility.
IDA
IDA, ou International Docking Adapters (adaptador internacional de acoplamento ) – adaptadores projetados para converter o sistema de de engate russo APAS-95 em um sistema compativel com as naves da NASA. O primeiro foi encaixado no PMA-2 em 2016, o segundo foi acoplado no PMA-3 em 2019.
BEAM
BEAM é um módulo habitável inflável experimental desenvolvido pela empresa Bigelow Aerospace , o primeiro módulo da ISS desenvolvido por uma empresa privada. Foi encaixado na porta esquerda do Tranquility.
NAUKA
Nauka, ou Ciência – o módulo de laboratório multiuso (Multipurpose Laboratory Module -MLM) lançado em 2021 pela Rússia, destinado ao armazenamento de equipamentos científicos, realização de experiências. Está equipado com uma cabine extra, aumentando o espaço interno do segmento russo. Também tem na parte externa um braço manipulador europeu ERA; Será acoplado na porta inferior do Zvezda, sendo que para isso o Pirs teve que ser descartado.
PRICHAL
Prichal é um compartimento universal de acoplamento multiplo Que foi acoplado na extremidade do Nauka para receber outros módulos russos que podem ser desenvolvidos – caso o país pudesse arcar com os custos.

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