SpaceX prepara voo inaugural do SuperHeavy para 2023

NASA exige que empresa apresente foguete e nave espacial funcionais, para avançar com o projeto Artemis

A Starship é uma nave espacial totalmente reutilizável de 9 metros de diâmetro e 50 metros de comprimento, com uma massa seca de 120.000 kg, movida por seis motores Raptor usando metano e oxigênio líquidos. O empuxo total da nave é de aproximadamente 1.170 tf. Serve como segundo estágio do foguete SuperHeavy, que fará a fase de impulso inicial até grande altitude.

A SpaceX vem (informalmente) prometendo o início dos voos de seu sistema Starship/Superheavy para lançar cargas pesadas em órbita baixa e para voos à Lua e Marte desde que a base de lançamento no Texas ficou pronta. Até o início do quarto trimestre de 2022, o plano original, defendido pelo CEO Elon Musk e a parte mais otimista dos engenheiros, era de fazer o teste de voo do foguete Superheavy ‘booster’ 7 (ou B7) com a espaçonave Starship ‘Ship 24’ logo após 28 de dezembro. Na verdade, este cronograma não era levado a sério por ninguem de fora do círculo próximo ao CEO e dos sites especializados americanos, youtubers e blogueiros espaciais que vivem de fabricar (ou extrapolar fatos mundanos como) notícias sobre a SpaceX. A empresa esteve, até o meio do ano, tentando apressar a montagem e configuração do conjunto foguete/nave e no recondicionamento das peças que haviam sido usadas nos testes eletricos e mecânicos. O motivo era que a NASA estabeleceu a condição de que a confiabilidade do lançador deveria ser comprovada ainda nas instalações da SpaceX no Texas, a Starbase de Boca Chica: Para a agência espacial americana, seriam necessários vários lançamentos bem-sucedidos do foguete – tanto em testes suborbitais, testes em órbita fracionada e testes em órbita; Só então a SpaceX teria caminho liberado para transportar blocos inteiros e da espaçonava para a plataforma 39A, onde a plataforma tradicional do Apollo/Shuttle já fora reformada para lançamentos do Falcon 9 nas duas versões, de carga e tripulada.

O trabalho de mitigar riscos

Na sua base no Texas, a SpaceX está se concentrando na mitigação dos riscos de avaria nos seus primeiros testes de voo – uma possibilidade aceita como bastante provável pelos engenheiros. Assim, os técnicos estão realizando sucessivas operações de testes estáticos para minimizar esse risco tanto quanto possível. Durante todo o segundo semestre do ano, tanto a nave espacial e seu foguete, quanto as próprias instalações de lançamento receberam as finalizações dos equipamentos. A torre de serviço e umbilical, com os braços de recuperação e as pontes de umbilicais sendo equipadas com versões atualizadas de conexões, dutos e tubulações. O sistema de suporte de solo, com os tanques de metano, nitrogênio e oxigênio líquido e suas bombas de alimentação e instalações de eletricidade, foi reconfigurado nas ligações do segmento terrestre com mesa circular de lançamento, conhecida informalmente como OLM – orbital launch mount.

O primeiro estágio do foguete é chamado de Super Heavy e é equipado com 33 motores Raptor, todos usados ​​para decolagens com carga útil total. Juntos, eles produziriam mais de 7.000 toneladas-força de empuxo. De acordo com Elon Musk, também é possível usar o termo “Starship ” para todo conjunto. O corpo cilindrico construído primariamente em aço inox 301 tem 9 metros de diâmetro, o o conjunto com a nave mede 118 metros de altura, tornando o Super Heavy/Starship o foguete mais alto de todos os tempos (o Saturn V media 111,63 metros). Supõe-se que o Super Heavy/Starship seja capaz de transportar até 100 toneladas de carga para a órbita baixa da Terra (e após um reabastecimento em órbita seria capaz de transportar 100 toneladas a Marte)

Starship na Flórida

Quanto ao progresso da construção da mesa de lançamento do SuperHeavy em Cabo Canaveral, os trabalhos seguem o cronograma. Funcionarios da empresa acreditavam que seria possivel montar a nave e o foguete na zona da plataforma 39A para verificação de ajuste no primeiro trimestre de 2023, usando a experiência conseguida na Starbase. Já foi feira uma reconfiguração do guindaste o braço umbilical da baia de motor da Starship e para ele servir à montagem e finalização dos braços de captura. Também está sendo montado o sistema anelar de supressão de som e vibração na mesa circular de lançamento. O equipamento para a atualização já chegava à Flórida quando os trabalhos em Boca Chica estavam focados nos testes estáticos, e o empilhamento e armazenamento de vigas, tubos, ferro, insumos e equipamentos já se avolumam no local. Porém, a Starship só chegará a plataforma 39A depois que os exemplares que estão em Starbase provarem sua confiabilidade. Enquanto isso, partes acessórias da estrutura da nave Ship 28 foram trazidas para Boca Chica, onde as instalações de,montagem e teste permitem levantar a Starship com um guindaste que foi adaptado para suspender a nave com base em mancais montados sobre os canards dianteiros, sem o uso de ganchos que interferem nas telhas de proteção térmica.

Enquanto isso, SpaceX e NASA continuam considerando uma atualização da plataforma SLC-40 em Cabo Canaveral (arrendada pela Força Aérea americana para a empresa de Musk) para lançar missões das naves Crew Dragon e Cargo Dragon para a estação espacial internacional, uma vez que o trabalho da plataforma para a Starship está em ritmo acelerado na zona 39A.

A Starship será usada como módulo lunar para pousar astronautas americanos na Lua após 2024

O progresso no foguete em Boca Chica

Nas instalações de teste da empresa, foram feitos ensaios do motor Raptor no suporte de teste tripode visando checar um sistema de controle de vetor de empuxo com motor elétrico. Esse sistema de controle (‘gimball‘ ou basculamento) usa o proprio impulso do motor para dar direção ao foguete em voo, dispensando motores auxiliares e vernier para cabeceio, guinada e rolagem – apesar de que existem motores de gás frio para manobras finas. No ‘booster’, espera-se que alguns dos motores tenham acoplados um gerador elétrico movido por gás sangrado da turbomaquinaria do motor. Basta que este sistema elétrico seja conectado a alguns dos motores para oferecer energia para mover todas as tubeiras equipadas com atuadores na periferia da baia de motores. Isso é feito sem comprometer a capacidade de remoção e substituição rápida do motor em caso de defeito (o equipamento de geração de energia elétrica não faz parte do bloco do motor). Cobertores e isoladores térmicos estão sendo montados entre cada compartimento individual para os motores.

Porta do compartimento de ejeção de satélites

Um grande novo tanque criogênico para oxigênio líquido – LOX – chegou em Brownsville e foi transportado para o local de teste no antigo campo de tiro da Massey [*] . Por outro lado, como parte da preparação e reconfiguração da Ship 24, uma nova tampa foi levantada sobre o compartimento de ejeção (PEU) para satélites Starlink V2 na Ship 24. Os engeheiros passaram as ultimas semanas montando o compartimento, que servirá de simulador para o voo inaugural, e abriram orifícios de equalização de pressão. A tampa nao será móvel e sim soldada sobre os caixilhos. Devem ser instalados simuladores de massa dentro do corpartimento, presos à bancada modular de ejeção para os satélites, cujo modelo dimensional também está pronto (uma estrutura de treliça de alumínio e aço com suportes para ejeção de satélites)

A data de lançamento de 28 de dezembro não foi alcançada, como todas as datas anunciadas formalmente ou “vazadas” para os jornalistas adestrados de Musk. Na verdade, o trabalho realizado nos ultimos meses se concentraram nas atividades de pré-lançamento do ‘booster’ 7. Já o ‘booster’ 9 está destinado a ir para a estação criostática para ensaios de compatibilidade. A espaçonave Ship 24 foi usada para os testes de ignição estática dos motores, visando uma assemblagem (conexão da nave com o foguete) e seu teste completo abastecido (o chamado wet dress rehearsal, ou WDR) provavelmente acontecendo em janeiro do próximo ano. Caso os testes estáticos do B7 sejam bem-sucedidos, a empresa vai a Ship 24 para um teste final estático antes das férias de inverno. O lançamento em si será possível em seis a oito semanas se tudo correr bem com o ‘booster’ 7. Os dados de ensaio estático monomotor para a Ship 24 aparentemente foram satisfatórios, enquanto se planejava refazer o ignição estática com seis motores antes da tentativa orbital, para garantir que os danos do último ensaio com seis motores fossem corrigidos. O booster 8 tem como par a espaçonave Ship 25.

O objetivo principal da nave, para Elon Musk, é Marte

Uma tentativa de lançamento no primeiro trimestre seria importante para a SpaceX confirmar a viabilidade do seu projeto, especialmente com vistas ao emprego do Starship como nave de alunissagem para o Projeto Artemis da NASA, mas na verdade poucos acham que o voo acontecerá no segundo trimestre de 2023.

O ritmo formal de trabalho no Texas continua e esperava-se tudo corra bem no WDR, enquanto os advogados de Musk seguem solicitando renovações de licenças de lançamento aos órgãos reguladores federais e estaduais. É bom lembrar que elon Musk é mal-visto nas altas rodas da admnistração democrata em Washington, para quem o trabalho da SpaceX na Artemis e para o governo em geral é dispensável (devido aos posicionamentos anti-esquerdistas do bilionário nas redes sociais); para Barack Obama e seus auxiliares diretos (que são quem está por trás do presidente ‘oficial’ Joe Biden), o esforço da Artemis é apenas um meio de propaganda de sua adminstração, e eles não teriam problemas em alijar tanto Musk quanto sua empresa do cenário espacial americano – uma vez que Blue Origin, Northrop Grumman, Boeing, ULA etc são empresas mais amigaveis ao governo, que tem nelas parceiros firmes.

A empresa de Musk não será autorizada a lançar a nave em seu voo inaugural até que a probabilidade de avaria na decolagem seja mínima – principalmente com o objetivo de preservar a torre e a mesa ao evitar uma decolagem malsucedida que resultasse numa queda vertical sobre a plataforma e inescapavelmente destruindo as instalações. Ao trabalhar no ‘booster’ B7, os engenheiros passaram estes meses praticando medidas para reduzir o risco de explosão, introduzindo soluções técnicas provisórias não adequadas para um lançamento completo, mas que certificassem essas tecnologias durante as ignições estáticas. Com base nesses testes, os sistemas na plataforma de lançamento e no foguete foram redesenhados na preparação para a ignição de trinta e três motores Raptors e a subsequente tentativa de voo.

[*] A SpaceX fechou em 2021 a compra da Massey’s Gun Shop and Range da RT.4, a caminho de Starbase. As instalações abrigam a “Raptor Facility” e seus usos incluem reparo, reconstrução e teste de motores.

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Autor: homemdoespacobrasil

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