Problema em motor impediu a estréia do foguete lunar dos EUA


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A NASA adiou o voo inaugural de hoje, 29 de agosto de 2022, de seu foguete-portador lunar SLS, e da espaçonave Orion ao redor da Lua na missão não-tripulada Artemis I. O veículo deveria decolar da plataforma de lançamento 39B no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, Flórida. A agência espacial convocou um adiamento da Artemis I às 08:35 EST (09:35 de Brasilia) na segunda-feira, 29 de agosto de 2022, após um malfuncionamento na sangria do motor RS-25 número de série 2058 “motor 3”. Os engenheiros não conseguiram resfriar o circuito do motor (procedimento “chilldown”), recorrendo a sangrar o hidrogênio líquido propelente pelo motor, fechando os outros três. “Os controladores de lançamento continuavam avaliando por que um teste de sangria para colocar os motores RS-25 na parte inferior do estágio central (“core stage”) na faixa de temperatura adequada para a decolagem não foi bem-sucedido e ficou sem tempo na janela de lançamento de duas horas”, de acordo com uma declaração da agência espacial. “Os engenheiros continuam a coletar dados adicionais.”
O ‘megarocket‘, como o SLS é chamado informalmente nas mídias sociais, é um foguete de 98,26 metros de comprimento, 8,41 metros de diâmetro e 2.608.156 kg de massa na decolagem. Os motores do estágio central e os dois ‘boosters’ auxiliares produzem 4.309.127,5 kgf de empuxo. É capaz de transportar uma carga útil de 86 toneladas até a órbita terrestre baixa ou 27 toneladas para a Lua.

Durante as sangrias do motor, o hidrogênio passa pelo motor para condicioná-lo para o lançamento; isso é feito aumentando a pressão nos tanques do estágio central para sangrar parte do propelente gelado para os motores para levá-los à faixa de temperatura adequada para acedimento. O circuito de fluido gelado serve para ‘acostumar’ as tubulações com a temperatura baixa dos propelentes, evitando um choque térmico na carcaça da câmara de combustão e na tubeira de saída dos gases. Tanto a câmara quanto a tubeira são refrigeradas pelo propelente, impedindo que elas se danifiquem pelo calor da ignição. O hidrogênio que passa pela tubulação do motor quando este está funcionando volta sob a forma de gás para o circuito do motor e para o tanque, auxiliando na pressurização.
A equipe também descobriu uma linha de gelo na flange de conexão entre o estágio ICPS e o cone de transição que o liga ao estágio central. “Esse gelo que se formou era essencialmente ar que estava sendo resfriado pelo tanque e que ficou preso dentro de uma fissura na espuma”, disse a agência espacial mais tarde. A princípio, os engenheiros pensaram que o gelo poderia indicar a presença de uma rachadura no tanque, mas esta acabou sendo apenas na espuma isolante externa de poliuretano. “As flanges são juntas de conexão que funcionam como uma costura em uma camisa, são afixadas na parte superior e inferior da seção intertanque para que os dois tanques possam ser conectados a ele”, disse a NASA. A equipe anunciou que o problema foi resolvido, pois a rachadura não indicava um vazamento.
Antes do adiamento, a contagem regressiva foi estendida para uma espera (“hold”) não planejada enquanto a equipe de lançamento trabalhava em um plano de solução de problemas.
A equipe de lançamento precisa solucionar o problema do motor e manterá o foguete em sua configuração atual para coletar dados e avaliar o que precisa ser feito. Tanto o foguete quanto a espaçonave, instalados na Platafroma 39B, permanecem estáveis, de acordo com funcionários da agência espacial. “A equipe não conseguiu superar o sangramento do motor que não mostrava a temperatura certa e, finalmente, o diretor de lançamento convocou um adiamento para o dia” disse o comunicador de controle de lançamento Derrol Nail. Nail disse que a próxima oportunidade de lançamento disponível seria no dia 2, mas não se tinha certeza que a NASA aproveitaria essa oportunidade. “Devemos esperar para ver o que acontece com os dados de teste que eles estão coletando agora e a decisão que deve ser tomada pela equipe de lançamento sobre o que fazer a partir daqui”, disse ele.
As condições climáticas permaneceram 80% favoráveis para um lançamento no início da janela. Mas vários problemas surgiram depois que o foguete começou a ser abastecido depois da meia-noite. Tempestades offshore com potencial para raios impediram a equipe de iniciar o processo de abastecimento, que deveria começar à meia-noite, por cerca de uma hora. A proibição foi levantada às 01h13 ET, e o processo começou a abastecer o estágio central do foguete com oxigênio e hidrogênio líquidos. A equipe parou de encher o tanque de hidrogênio duas vezes devido a um vazamento inicial, bem como a um pico de pressão, mas o processo foi retomado e começou depois para o estágio superior, ou estágio de propulsão criogênica interina ICPS.
Próxima janela de lançamento
A próxima data de decolagem possível para a Artemis I é 12:48 EST (13:48 Brasilia) na sexta-feira, 2 de setembro. Essa janela de lançamento se estende até 14h48 EST, 15:48 Brasilia. Após 5 de setembro, a próxima janela de lançamento seria 19 de setembro de 2022.
Depois disso, outra janela de lançamento será aberta às 17h12 EST e fecha às 18h42 EST na terça-feira, 5 de setembro.No entanto, é possível que um teste de abastecimento adicional seja necessário, o que pode significar mais atrasos. Os longos intervalos entre as janelas de lançamento se devem à posição da Lua em relação à Terra e também ao plano de voo. A trajetória da espaçonave cujo sistema elétrico depende de energia solar não deve levá-la através de um eclipse – a sombra da Lua – por mais de 90 minutos. As oportunidades de lançamento também são limitadas pela posição da lua e pelas condições de iluminação na reentrada, entre outras considerações. Se a agência espacial não puder lançar até 5 de setembro, sua próxima tentativa provavelmente será em outubro.
Os engenheiros também estavam trabalhando para descobrir o que causou um atraso de 11 minutos nas comunicações entre a espaçonave e os sistemas de solo. O problema pode ter afetado o início da contagem final – a contagem regressiva que começa quando restam 10 minutos antes da decolagem.
A declaração do chefe da NASA
O administrador da agência espacial, Bill Nelson, abordou o adiamento logo após o anúncio, enfatizando que o Artemis I é um voo de teste. “Não lançaremos até que tudo esteja certo”, disse Nelson. “Eles têm um problema com os fluidos sangrado em um motor. E demonstra que esta é uma máquina muito complicada, um sistema muito complicado, e todas essas coisas precisam funcionar. Você não ‘acende a vela’ até que esteja pronto para ir.” “Acender a vela” é uma gíria para acionar os motores. Como astronauta, Nelson estava no 24º voo do ônibus espacial, na missão STS-61C do shuttle Columbia, como convidado da NASA (era senador na época). O lançamento foi adiado quatro vezes e a quinta tentativa resultou em uma missão impecável.
A vice-presidente Kamala Harris e o esposo Douglas Emhoff visitaram o Centro Espacial para assistir ao lançamento. Aparições de celebridades como Jack Black, Chris Evans e Keke Palmer e performances de “The Star-Spangled Banner” de Josh Groban e Herbie Hancock e “America the Beautiful” da Orquestra de Filadélfia e do violoncelista Yo-Yo Ma também foram planejadas como parte do o programa.
Cronograma da missão
- Dia de voo 1: lançamento
- Dia de voo 2 a 5: trânsito de preparação para saída da órbita terrestre
- Dias de voo 6 a 9: trânsito para a órbita lunar
- Dia de voo 10 a 23: órbita lunar
- Dia de voo 24 a 34: saida da órbita lunar
- Dias de voo 35 a 42: trânsito de retorno
- Dia de voo 43: amerrissagem

O plano de voo
A espaçonave será lançada, orbitará a Terra e, em seguida, propelida pelo segundo estágio do foguete (o ICPS) para entrar em uma órbita elíptica lunar com perigeu e apogeu de 99,7 km a 64.373 km. Este será o mais longe da Terra do que qualquer espaçonave projetada para tripulantes já voou.

No cockpit da nave serão transportados um manequim completo e dois torsos, para simular a presença humana. O manequim ‘Moonikin Campos’ recebeu o nome por um concurso público em homenagem a Arturo Campos, o engenheiro da NASA que foi fundamental para trazer a tripulação da Apollo 13 de volta à Terra com segurança. O “Moonikin Campos” se sentará no assento do comandante. Sob o assento há sensores para medir aceleração e vibração para ajudar a avaliar oa tripulação pode experimentar durante o voo. Já “Helga” e “Zohar” são o que a NASA chama de phantoms – “fantasmas” – torsos de manequim feitos de materiais que imitam ossos, tecidos moles e órgãos femininos adultos. Uma grande parte de sua missão envolve detecção e medição de radiação.

Zohar usará um colete de proteção contra radiação, chamado AstroRad, enquanto Helga não. O estudo fornecerá dados sobre os níveis de radiação que os astronautas podem encontrar em missões lunares e avaliará a eficácia do colete de proteção que pode permitir que a tripulação saia do abrigo contra tempestades solares e continue trabalhando na missão, apesar de uma tempestade solar.
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