Lançador de pequenos satélites teve defeito nos terceiro e quarto estágios

A Índia testou seu novo foguete leve SSLV – Small Satellite Launch Vehicle, no domingo, 7 de agosto de 2022, mas a missão sofreu uma pane na fase final. O anúncio foi feito pela Organização Indiana de Pesquisa e Desenvolvimento Espacial (ISRO) em seu Twitter : “O primeiro voo do SSLV foi concluído. Todas as etapas foram concluídas conforme planejado. Uma perda de dados foi observada na fase terminal. A análise está em andamento, atualizaremos as informações em breve”, disse a ISRO.
O SSLV-D1 decolou da primeira plataforma de lançamento do Satish Dhawan Space Center em Sriharikota às 09h18 IST (03:48 UTC, ou 00:48 hora de Brasília). O foguete transportava duas cargas úteis – os satélites EOS-2, de observação da Terra, e Azaadisat, de experimentos estudantis. Os diretores da missão chegaram a congratular a equipe pelo bom funcionamento dos três primeiros estágios, de combustível sólido, antes que se confirmasse a pane no quarto estágio, que usava propelentes líquidos. Esses terceiro e quarto estágios e os satélites teriam caído no Oceano Pacífico por volta das 04:31 UTC, 01:31 Brasília. Mais tarde foi confirmado que o terceiro estágio teve funcionamento anormal, assim como o quarto.
A telemetria foi perdida após os primeiros 9 minutos da missão, e foi verificado que o quarto estágio colocara os satélites em uma órbita elíptica de 356 km por 76 km, inclinada em 41,6 graus ; já a órbita do terceiro estágio seria cerca de 58 por 351 km – em vez de uma órbita circular pretendida de 356 km, de modo que os satélites foram perdidos. O problema foi preliminarmente identificado como falha de circuito lógico para identificar um defeito de sensor e mudar para uma rotina de recuperação de controle.
Analistas citados na mídia indiana confirmam que o problema parece ter se originado no quarto estágio VTM. De acordo com o plano, o VTM deveria ter queimado por 20 segundos a partir de 653 segundos após o lançamento. No entanto, ele queimou por apenas 0,1 segundo, negando ao foguete o incremento de altitude necessário. Os dois satélites transportados se separaram do veículo após o esgotamento do VTM. Isso significa que eles também perderam suas trajetórias orbitais pretendidas e entraram em uma órbita elíptica.
Esta não é a primeira vez que a agência espacial indiana tem um revés em suas primeiras missões de lançamento. “O PSLV não teve sucesso em seu primeiro voo em 20 de setembro de 1993”, disse o especialista em espaço Girish Linganna. “Não foi um grande problema. Quanto ao primeiro voo [do SSLV], foi quase perfeito com um pequeno ‘soluço’ no final. O próximo lançamento deve ser muito mais tranquilo. Foi um bom primeiro voo no geral. Nós da Pixxel esperamos usar o SSLV muito em breve para [lançar] alguns satélites em nossa constelação”, disse Awais Ahmed, fundador e CEO da Pixxel. Ele diz que o que ocorreu foi uma falha de um sensor e do software que deveria descobrir que o sensor falhara. “Devido a isso, a quarta ignição do quarto estágio não aconteceu corretamente e os satélites foram colocados em uma órbita de elíptica de 356 x 76 km em vez de uma circular de 356 km. Como 76 km é muito baixo, o atrito atmosférico teria queimado os satélites”, acrescentou Ahmed.
Um comitê foi formado para estudar a telemetria, e com a implementação de sas recomendações, permitir que a ISRO faça um segundo teste com o SSLV-D2. Além deste, está programado um terceiro voo de prova antes de certificar o foguete para uso comercial.
A intenção do teste era demostrar a presteza de lançamento sob demanda (launch on demand, ou LOD – é a competência para colocar satélites em órbita sob rápida encomenda). A ISRO alocou Rs 169 crores para o projeto, que deve cobrir o desenho e qualificação dos sistemas e a demonstração de voo por meio de três voos de desenvolvimento, os do SSLV-D1 atual e dos SSLV-D2 e SSLV-D3.
Satélite EOS-2

O satélite de observação EOS-2 serviria para mapeamento e desenvolvimento de vários aplicativos GIS. Ele tinha uma câmera infravermelha de comprimento de onda médio e outra câmera infravermelha de comprimento de onda longo, com resolução de 6 metros. O satélite teria vida útil de dez meses. Contruído em paineis de favo-de-mel de alumínio formando uma caixa não-selada de 55,2 cm x 60 cm x 60 cm, tinha subsistemas Mainframe/Bus de cargas úteis independentes integradas com dois painéis solares.
Cubesat AzaadiSat

Já o AzaadiSat foi desenvolvido por meninas estudantes rurais de todo o país coordenadas pela SpaceKidz India, uma start-up de objetivos educacionais. Ele carregava setenta e cinco cargas úteis cada uma pesando cerca de 50 gramas com experimentos. O AzaadiSAT era uma missão na qual a organização selecionou 750 alunas de setenta e cinco escolas governamentais de todos os estados indianos com para construir as 75 cargas experimentais. As cargas úteis incluiam um transponder UHF-VHF em radiofrequência amadora para transmissão de voz e dados para radioamadores, um contador de radiação, um transponder de longo alcance e uma câmera ‘selfie’. O sistema terrestre desenvolvido pela Space Kidz India será utilizado para receber os dados do satélite.

Um novo foguete para um mercado em crescimento

“O SSLV é um veículo pronto para transferência com sistemas modulares e unificados e com interfaces padrão para produção industrial de ponta a ponta”, disse um funcionário da ISRO. Os principais recursos do SSLV incluem um segmento de motor de ‘booster’ com uma configuração de junta aberta para minimizar a montagem e o prazo de integração. Ele também possui uma configuração unificada entre estágios para permitir integração e lançamento rápidos, e um sistema de aviônicos miniaturizado de baixo custo com componentes comerciais industriais prontos para uso. O SSLV também possui acomodação multissatélite com um deck com varios adaptadores-ejetores e um sistema de controle digital com atuadores eletromecânicos totalmente indianos. Ao contrário do PSLV, o SSLV usa somente combustível sólido – polibutadieno terminado em hidroxila – para disparar os três estágios que leva as cargas úteis à altitude desejada. O Velocity Trimming Module (VTM) de propulsão líquida insere o satélite em órbita. De acordo com funcionários da ISRO, o SSLV tem um tempo de resposta baixo e pode ser montado em quinze dias, permitindo que a agência espacial forneça serviço de lançamento sob demanda no setor de cargas de órbita terrestre baixa, em rápido crescimento.
O que o design SSLV significa para a indústria privada: O foguete foi projetado de forma a facilitar a participação de pequenos players da indústria em sua construção, ao contrário de foguetes mais avançados, como o PSLV ou os GSLV Mk2 ou Mk3. “Faremos apenas dois ou três lançamentos e depois planejamos transferir a tecnologia para players privados”, disse o diretor do VSSC. “Desenvolvemos um design tão simples e amigável que até mesmo pequenas empresaas do setor podem fazer parte de sua construção”, acrescentou. Ele estava se referindo a fabricantes de hardware que podem fornecer a caixa metálica para os foguetes ou as que projetam os circuitos elétricos ou desenvolvem processadores para operações críticas dentro do veículo lançador. O projeto de veículos de lançamento mais avançados, como PSLV e GSLV, exige processos de fabricação de alta habilidade que apenas grandes empresas como a Hindustan Aeronautics Limited podem adotar.

O SSLV tem 34 metros de altura com um diâmetro de dois metros, e uma massa de decolagem de 120 toneladas e é 10 metros mais curto que o foguete Polar Satellite Launch Vehicle PSLV tambem da ISRO e pode colocar cargas úteis de até 500 kg em uma órbita de 500 km. Já o PSLV tem 44 metros de altura e tem capacidade para colocar em órbita cargas úteis de até 1.800 kg. O PSLV é o cavalo de batalha da Índia e realizou com sucesso mais de cinquenta missões. O foguete recém-desenvolvido foi configurado com os três estágios de propelentes sólidos de 87 t, 7,7 t e 4,5 t respectivamente, contra o PSLV, que é um veículo de quatro estágios que gera 4.800 kN de empuxo no primeiro estágio, 799 kN no segundo, 240 kN no terceiro e 15 kN no quarto. Enquanto o PSLV domina o SSLV nos segmentos de carga mais pesada, o novo foguete ganha quando se trata de tempo de preparação (ou “resposta”). O tempo de resposta significa preparar um foguete para o próximo lançamento e o SSLV pode ser preparado e transferido para a plataforma de disparo em pouco mais de 72 horas, contra os dois meses necessários para preparar um PSLV.
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